sábado, abril 07, 2007

Noites inesquecíveis (Criado em 02/09/2006)

Participei, pela primeira vez, de observações astronômicas. Foi durante as noites de 20 e 21 de agosto passado, segunda e terça, respectivamente. Há muito tempo o meu orientador acadêmico vinha me estimulando a participar mas para isso é preciso que o período das observações não coincida com grande densidade de aulas ou com provas.

Bem, lá fui eu, ou melhor, lá fomos nós: meu orientador, eu e mais três colegas de iniciação científica no Observatório do Valongo. Fomos todos no carro do nosso orientador, um Gol 1.0 16V. Tadinho, mais adiante sofreu. O trajeto pela Rio-São Paulo foi tranquilo, pois não há grandes inclinações além da Serra da Araras. Na altura de Lorena entramos à direita. Passamos por Lorena e começamos uma subidinha até suportável pelo Gol com toda aquela carga. Chegamos ao ponto mais alto da estrada, na Serra da Mantiqueira e começamos a descida na direção de Itajubá, passando por Piquete. Em Itajubá, um baixadão. Não entramos na cidade, apenas a tangenciamos, nos dirigindo para a sede do LNA, onde encontramos instalações muito boas e um cafezinho quentinho feito na hora. Depois de alguns minutos de conversa entre nosso orientador e um dos cientistas locais, saímos em direção ao OPD (Observatório do Pico do Dias), cuja imagem se podia contemplar lá da sede do LNA, a uma distancia incrível. Pela visão que tínhamos do OPD já podíamos imaginar o quanto ainda tínhamos de viajar e, principalmente, subir.

Ganhamos a estrada novamente (BR-459), a qual vai até Poços de Caldas. Entretanto, entramos à esquerda na localidade de Piranguinho, tomando a MG-295. Antes de chegarmos a Brasópolis entramos numa estrada de terra à esquerda, começando a subida para o Pico do Dias. Aí é que o Gol do nosso orientador sofreu. Muitas costelas, muito cascalho ponteagudo raspando no fundo do carro, um desgaste.

Bem, finalmente chegamos à recepção do OPD. Após nos identificarmos e recebermos material (agasalho e lanterna) e a chave do quarto, fomos saborear a tradicional comida mineira. Tudo muito simples mas muito saboroso. O jantar no OPD é servido ás 17h00 pois o turno de observação tem início ás 19h00. Como o Pico do Dias é razoavelmente íngreme, todas as instalações (administração, refeitório, quartos, oficinas) se situam em níveis diferentes, interligados por escadarias, cansativas, por sinal, pois o OPD está situado a 1.860 m acima do nível do mar. Só as cúpulos dos 4 telescópios é que ficam situadas numa espécie de clareira situada no ponto mais alto (www.lna.br).

Chegada as 19h00, lá fomos nós lá para cima. Escuridão total. Um breu, como dizem alguns. Sem as lanternas e sem a pintura branca nas bordas das escadas seria um desastre a locomoção. Mas ao chegar no topo, recebe-se o prêmio. A noite era de céu sem nuvens. Vi uma mancha branca no céu. Pensei que era nuvem. Perguntei ao colega mais experiente: é nuvem? Ele respondeu: Não, é massa estelar! Que espetáculo!!! Pela primeira vez eu consegui, sem a interferência da poluição luminosa que nos envolve nas grandes cidades, ver o céu como ele é. Incontáveis estrelas! A Via Lactea! O planeta Júpiter! Antares, a super gigante! Imagem colossal já visível a olho nú. Foi nesse instante que me lembrei do Salmo 19, onde Davi, o pastor, rei, líder e astrônomo, faz aquela majestosa declaração nos primeiros versículos.

Cessado o êxtase inicial, fomos para a cúpula principal, já que a observação que o nosso orientador iria fazer estava programada para o telescópio refletor de 1,6 m de diâmetro. Não fizemos observações espetaculares, com imagens formidáveis de galáxias coloridas, mas colhemos imagens de alguns quasares para um trabalho de construção de um novo catálogo de referência, e de uma determinada estrela que deverá ser oculta por Plutão dentro de algum tempo, quando então poderá se estudar melhor as dimensões desse planeta e de sua possível atmosfera. Foi uma oportunidade valiosa para se ter contato com o apontamento de um telescópio daquele porte e com a operação do programa que colhe as imagens através de um CCD. A cúpula desse telescópio se acha no topo de um edifício de 3 andares onde existem salas para se executar diversas tarefas ligadas às observações, uma biblioteca, uma copa, várias oficinas óticas e outros recursos auxiliares para o funcionamento do telescópio.

Moral da história: Louvado seja Deus pelo Universo que ele criou!!!

Como dizia Johann Sebastian Bach: Soli Deo Gloria!