domingo, maio 17, 2009

Entretenimento Contemplativo Mântrico

Há muito tempo venho refletindo sobre as características das manifestações musicais atualmente em uso nos cultos batistas. Essa nomenclatura - Entretenimento Contemplativo Mântrico - me ocorreu quando, em pleno culto em minha igreja, ouvia o "grupo de louvor" e alguns elementos da congregação, não todos, entoarem cânticos que classifico dessa forma. O que percebo é que, quase que subitamente, houve uma metamorfose no formato do procedimento musical do culto, com outras tendências de estilo, originárias de outras correntes teológicas, que dominaram a visão de muitas lideranças batistas.

Classifico como entretenimento contemplativo mântrico qualquer letra colocada na primeira pessoa do singular e seus afins - eu, meu, a mim, comigo, me - e que não tenha caráter testemunhal. Minha compreensão diz que a música cantada nos cultos públicos, coletivos, precisa ter caráter didático e kerigmático. Alguém pode perguntar: O que significa kerigmático? O léxico grego informa que kerigma signica proclamação. Logo, kerigmático significa ter caráter proclamatório. Didático, como todos já sabem, significa caráter de ensino. E mântricos? É oriundo de mantra (palavra não encontrada no dicionário da língua portuguesa), tipo de declaração repetitiva sem fim de uma mesma coisa. Exemplo: Hare Krishna, Hare, Hare; Hare Krishna, Hare, Hare; Hare Krishna... pronto, já é possível entender o que estou querendo dizer.

Penso que temos de ser bons mordomos do tempo cultual para usarmos cada minuto, cada segundo, para ensinar e proclamar as verdades bíblicas. A maioria absoluta dos cânticos entoados em nossos cultos são meras declarações contemplativas e repetitivas extremamente pobres em termos didáticos e kerigmáticos. Quase nenhum deles fala de cruz, de salvação, de arrependimento, de Jesus Salvador. Quase todos são exclusivamente triunfalistas, como se não fôssemos servos, mas chefes do Senhor. Quase todos só falam de vitórias materiais incondicionais, sem falar do sacrifício pessoal inerente à vida cristã real. Quase todos são entoados uma, duas, tres, etc vezes, articulando-se a mesmíssima coisa, ou só o nome de Jesus, sem adjetivos, ou ações, ou outro atributo importante do Senhor, ou só uma postura isolado do eu, do mim, do a mim, do eu quero. Não se canta mais um "ó como é grande e doce a promessa do Salvador Jesus, nosso Rei", ... ou "a cruz ainda firme está, aleluia", ... ou ainda "a mensagem do Senhor, aleluia, ungida de perdão e amor".... enfim, nada didático, nada kerigmático se canta mais. O Senhor Jesus ensina que, ao orarmos, não devemos usar vãs repetições (Mateus 6.5-8). Digo isso porque os cânticos que assim classifico têm o formato de oração.

E o que contemplamos na congregação? Vemos várias pessoas com expressões de sofrimento, com os olhos fechados, com braços estendidos para cima para pegar não sei o que, e um balançar de corpos que nada tem de espiritual. Ou seja, sinto falta da compreensão da declaração de Paulo, ao dizer que orará com o espírito, mas também com o entendimento, e também de que cantará com o espírito e também com o entendimento (1 Coríntios 14.15). Vejo pessoas quase que em transe hipnótico. Ou apenas se deliciando com as lindas melodias, as belíssimas harmonias, a riqueza do acompanhamento instrumental, aspectos esses normalmente encontrados na prática de tais cânticos. Momento de real entretenimento.

A música é veículo, é arte funcional. Ela não é a parte mais importante da mensagem musical. O importante é o que ela conduz: a letra. Se esse conteúdo for pobre de didática e kerigma, o tempo cultual foi desperdiçado e não se construiu o edifício espiritual dos cultuadores. Serviu apenas para embalar o deleite musical das pessoas.

Que o Senhor tenha misericórdia de todos nós.